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Resenha livro: As Crianças Esquecidas de Hitler – Ingrid von Oelhafen e Tim Tate

Ingrid Von Oelhafen foi uma das vítimas do Programa Lebensborn, de Himmler e nesse livro ela contou sua história.

O Programa Lebensborn foi criado pelo referido nazista e tinha como intuito aumentar a taxa de natalidade de crianças “arianas” na Alemanha nazista.

Havia muitos infanticídios e abortos feitos por mulheres, que por vários motivos, não queriam um filho ou levar adiante uma gravidez.

O Projeto Lebensborn a princípio nasceu para oferecer assistência a essas mulheres, desde hospitais e médicos, a comidas e roupas. Elas poderiam ficar nas casas quanto tempo fosse necessário.

Projeto lebensborn
Foto do Programa Lebensborn. O objetivo inicial era ajudar mulheres “arianas”.

Quando seus filhos nascessem eles seriam disponibilizados pelo governo para serem adotados por casais “arianos”.

No entanto, a quantidade de mulheres alemãs que procuravam as casas do referido programa era muito pequena.

Assim, Himmler emitiu uma ordem para os nazistas que estavam ocupando os países, que se vissem crianças com aparência “ariana” nesses lugares era para trazê-los para o Projeto Lebensborn, onde eles seriam adotados por casais alemães.

Crianças de outros países
Crianças de países ocupados pelos nazistas deveriam passar por testes se fossem considerados “arianos” deveriam ser levados para a Alemanha e adotados.

E assim começa a história de Ingrid von Oelhafen.

Filha adotiva de uma mãe – Gisela extremamente distante e fria e um pai que não tinha tolerância com nada.

No final da guerra, Gisela pega Ingrid e seu irmão de criação, também uma criança adotada e foge dos soviéticos.

berlim destruída
Berlim destruída.

Além do medo de ser estuprada, ela temia que a NKVD (futura KGB) descobrisse a origem de seus filhos.

No meio do caminho, já na parte ocupada pelos americanos, ela deixa as duas crianças em um orfanato, na qual ela as visitavam raramente.

Ingrid desesperada mandava várias cartas para a mãe, pedindo que a buscasse, nunca teve nenhuma resposta.

Enquanto isso, seu pai conseguiu se estabilizar em Berlim, mas o casal já estava separado.

Ele vai foi até o orfanato e levou os dois filhos para a casa.

Era um pai extremamente rígido, que não queria gastar um centavo com nada, por várias vezes Ingrid foi espancada por ele, por ter comido um pouco mais de geleia.

Erika
Ingrid na época que descobriu que era adotada.

Enquanto seu irmão foi devolvido para o orfanato, porque dava muito trabalho.

Nessa casa, uma empregada ficou com pena da garota e contou a ela o fato da sua adoção, porém ninguém sabia de onde ela tinha vindo.

Em outro momento, Ingrid viu que quando seu pai a levou para tomar vacina, o médico leu um outro nome em sua carteira de vacinação: “Erika Matko”.

Quando seu pai faleceu, Gisela resolveu buscar a menina para que ela a ajudasse em seu consultório de fisioterapia.

Ingrid
Ingrid com seu irmão de criação.

Mas, a distância entre mãe e filha continuava muita, nada era dito sobre o passado da garota.

Resumindo bastante a triste história de Ingrid, um dia ela recebeu uma ligação da Cruz Vermelha, perguntando se a filha de Gisela não queria pesquisar a respeito do seu passado, pois desconfiavam que “Erika Matko” tinha feito parte do Projeto Lebensborn.

Assim, começou sua sina procurando documentações na Alemanha sobre seu passado, contando com muita má vontade do governo, pois as pessoas queriam enterrar o passado nazista.

Também vários pedidos de ajuda foram feitos para os países que foram ocupados pelos alemães, mas também se tornou algo muito difícil visto que, muitos haviam acabado de sair da “cortina de ferro”.

Outros como a antiga Iugoslávia passava por uma terrível guerra civil.

Ingrid acaba contando com a ajuda de várias pessoas e consegue encontrar sua família origem, mas as coisas não foram simples, pelo contrário.

Não vou contar o que aconteceu com ela, pois quero muito que vocês leiam o livro.

Por isso, deixo aqui essa dica!!!

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Resenha doc.: O Contador de Auschwitz – Matthew Shoychet

O documentário “O Contador de Auschwitz” nos conta a história do julgamento de Oskar Gröning, que exerceu a função de “contador” em Auschwitz.

Sua função era cuidar das bagagens dos prisioneiros em um departamento que tinha o apelido de “Canadá” (o nome foi dado por ser um país rico). Uma frase em seu depoimento demonstrou que o genocídio foi executado e era de conhecimento de todos os funcionários do campo: “Eles não precisariam nunca mais dos seus pertences”.

Interessante observar que Oskar Gröning critica quem nega a existência do Holocausto afirmando: “Eu vi, eu estava lá. Existiam câmeras de gás e fornos crematórios, não havia como nenhum judeu sair dali vivo.”

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Em tradução livre, depoimento de Gröning: “Eu quero dizer a quem nega [Holocausto]: Eu vi os crematórios, eu vi valas em chamas. E eu quero que você acredite que essas atrocidades aconteceram. Eu estava lá.” 

A obra faz vários questionamentos como por exemplo, somente o alto escalão nazista foi julgado e condenado, sendo que alguns se suicidaram.

Outro problema é se o tribunal alemão estaria julgando a mesma pessoa, pois quando trabalhou no campo de extermínio nazista Oskar Gröning tinha 23 anos e no julgamento 92 anos.

No entanto, os horrores que vieram depois do Holocausto, como o genocídio na antiga Iugoslávia, Ruanda, Camboja e Darfur se devem a falta de condenação dos alemães que perpetraram o Shoá.

O contador de Auschwitz - Sangue
Quando Gröning foi questionado sobre as crianças assassinadas, lemos essa resposta. Isso demonstra bem a mentalidade do regime nazista. 

Esse fato demonstrou para o mundo que o crime compensa, que em caso de um indivíduo participar de um genocídio nada acontecerá a ele individualmente.

Lembramos da famosa frase de Hitler: “Quem se lembra do genocídio armênio?” Quando ele e o alto comando nazista estavam planejando métodos que utilizariam na “Solução Final” (aniquilação completa do povo judeu).

O contador de auschwitz - passeata
Infelizmente a ideologia nazista ainda persiste. 

Interessante observar que muitos alemães que participaram do Holocausto se entregaram no final da guerra aos americanos, acreditando que jamais seriam punidos, pois compreendiam não terem feito nada sério.

O contador de Auschwitz - gente sem condenação
Muitos criminosos de guerra nazistas não foram sequer julgados. 

O documentário contou também com a entrevista de alguns sobreviventes, que narraram um pouco do horror em que foram vítimas.

Deixo a dica desse documentário para quem se interessa pelo assunto, vale a pena entender um pouco mais.

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Eu não encontrei o trailer e nem o documentário, para assistir você encontrará na Netflix.

 

 

 

 

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Resenha texto: Inventando o campo de concentração: In: “Os Primeiros Modernos” – Willian R. Everdell

Em 1896, na Terceira Guerra de Independência da colônia de Cuba: Um oficial chamado Valeriano Weyler y Nicolau, que era capitão- geral e governador espanhol, decidiu implementar uma ideia que os espanhóis tinham tido anteriormente: separar os rebeldes na província de Pinar del Rios dos civis que os apoiavam, assim os cidadãos seriam transferidos para locais protegidos.

Tudo foi feito em nome da “proteção” dos civis. Neste campo de reconcentração, os habitantes foram postos em lugares cercados por arame farpado. Dessa maneira, qualquer um que estivesse de uniforme dos combatentes cubanos poderia ser alvejado com segurança, pois se tratava de um rebelde.

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Imagem de crianças padecendo de fome em um campo de reconcentración espanhol.

Os civis se tornaram praticamente prisioneiros, não tinham direito de ir e vir, os alimentos não chegavam em quantidades suficientes e muita gente acabou falecendo de desnutrição e doenças.

O governo espanhol, após pressão internacional, principalmente dos Estados Unidos, exonerou Weyler. Em 9 de abril, a Espanha concordou até com um armistício na Guerra da Independência, em que parte dos seus territórios conquistados passaram para mãos estadunidenses, incluindo Cuba e Filipinas.

Valeriano Weyler voltou à Espanha para retomar sua carreira militar, sufocando revoltas trabalhistas em Barcelona e em 1930 treinou novos oficiais, incluindo Francisco Franco.

O campo de concentração ainda não era um campo de extermínio, que seria inventado depois pelos nazistas.

O Holocausto foi o maior e o mais bem organizado de todos os modos de genocídios. Porém, não foi o primeiro e como vimos na guerra da Bósnia e de Ruanda, não foi o último.

A história dos campos de concentração começou com as casas correcionais da Europa pré-moderna, por exemplo, os campos nazistas nasceram, principalmente Auschwitz, para prender pessoas que eram contra o nazismo.

Gueto de Roma
Representação do gueto judeu de Roma.

Os campos não descendem somente do encarceramento de pessoas, mas principalmente das tradições de segregação de grupos em guetos, como por exemplo, os bairros judeus na Europa, onde as pessoas não eram livres para saírem de lá (não tinham direito de ir e vir). A justificativa para prende-las nesses espaços foi a mesma dada por Valeriano Weyler y Nicolau, proteger as pessoas.

Em setembro de 1900, o general Kitchener que comandava o exército britânico na África do Sul falou abertamente sobre a construção de campos de concentração, dentro das áreas de conflito, esses lugares foram feitos com a desculpa de proteger cidadãos que se rendiam voluntariamente. Os construtores o batizaram de laagers, que em africâner significa acampamento.

 “No mesmo dia, em outra metade do mundo, na África do Sul, Kitchener emitiu um memorando sobre como os laagers seriam projetados, com áreas cercadas e fortins usados como nas prisões para vigiar e prevenir tentativas de fuga. Em janeiro de 1901, foram construídos laagers para boêres em Bloemfoentein, Cabo de Norval, Aliwal North, Springfontein, Kimberly e Mafeking no Transvaal. Haveria finalmente 42 deles, mais 31 para aqueles que os holandeses chamavam de kaffirs, os negros originários da África do Sul.”

Posteriormente, ficou logo claro que esses lugares não se destinavam a proteção de ninguém, 60% dos prisioneiros morreram, os europeus alegaram que as pessoas faleceram devido a doenças.

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Imagem de um laager na África do Sul.

O autor, que é americano, chama a atenção para os Estados Unidos, que além de construir esses campos nas Filipinas, pretendiam fazer o mesmo no próprio país.

Em 1834, o governo norte-americano criou uma reserva para minorias étnicas indígenas. Posteriormente, o governo do estado de Missouri sugeriu fazer o mesmo em relação aos mórmons, dizendo em relação a um menino dessa religião: “As lêndeas produzirão piolhos”, felizmente a ideia não foi para frente.

Em 1904, Von Trotha que havia derrotado a etnia dos hereros na colônia alemã, chamada África Sudoeste emitiu uma ordem de aniquilação referente a essa população.

Essa decisão foi tomada para evitar o mesmo fracasso que os espanhóis tiveram em Cuba. Dessa maneira, os alemães cercaram com arame farpado um território no deserto de Kalahari e colocaram as pessoas capturadas para trabalharem.

Não podemos esquecer do genocídio armênio, o método turco foi enviar unidades militares de aldeia em aldeia, despojando-os de suas casas e numa estrada como refugiados foi muito mais fácil ataca-los.

Sob o domínio dos czares, a Rússia se tornou especialista em controlar minorias, lá os ataques aos judeus, chamados pogroms, em que a população russa entrava nos shetels (aldeias judaicas) e matava a todos que viam pela frente. O interessante é que esses ataques antissemitas eram apoiados pelo governo, como uma maneira de disciplinar a população judaica. Pogrom_de_Bialostok

Imagem de um pogrom de 1906, em Bialystock, atual Polônia, na época o local pertencia ao Império Russo.

Em 1918, Leon Trotski ordenou a construção de campos de concentração para thecos que se insubordinam contra a Revolução Bolchevique e Lenin mandou que todos os militares capturados do exército branco fossem colocados nesses lugares.

No final de 1930, a maioria dos prisioneiros do estado soviético foram mortos por doenças e desnutrição. Hitler e Himmler abriram seus primeiros campos: Oranienburg, Dachau e Columbia House em 1933 e 1934, copiando os gulags soviéticos.

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Imagem aérea do campo de extermínio de Dachau, na Alemanha. Hitler se baseou principalmente nos gulags soviéticos para criar os campos de morte.

Quando decidiu formar os campos de extermínio, o Führer perguntou: “Quem fala hoje em dia do extermínio dos armênios?” Ele acreditava que ninguém se lembraria do Holocausto.

Assim, o autor fecha com um parágrafo que gostei bastante: “A invenção ocidental da arma política clássica do século XX deixou nossa cultura com má consciência. A solução só pode começar com palavras como aquelas que o antigo calvinista John Adams não pode deixar de colocar em sua Defesa das constituições norte-americanas: “Não há nenhuma Divina Providência especial para os norte-americanos e a sua natureza é a mesma dos outros.”

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Esse texto é excelente, pois nos mostra que a origem da ideia dos campos de concentração, que nas mãos dos nazistas se tornaram campos de extermínio já estava colocada desde o século XIX. Como o autor falou, foi uma invenção ocidental que começou com os espanhóis em Cuba.

William R. Everdell é professor e autor historiador norte-americano, nascido em 1941, se formou em Priceton Universtary.

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Resenha doc.: What our Fathers Did: A Nazi Legacy – David Evans

Niklas Frank e Horst von Wächter são filhos de nazistas. Imaginamos como foi crescer sendo filho de um genocida, após a Segunda Guerra Mundial. Como fica a mente de uma pessoa que cresce nessa circunstância?

 

Como esses dois nazistas eram dentro de casa? O que pensavam? Eu tenho muita curiosidade em saber como eram essas figuras intimamente. Eram burocratas medíocres como o Eichmann? Ou eram o cérebro da operação?

Quando comecei a assistir ao documentário essas foram algumas perguntas que eu fiz e obtive algumas respostas. 

Niklas Frank é filho de Hans Frank – conhecido como carniceiro da Polônia. Ele ocupou o cargo de governador geral na Polônia ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial. Foi responsável pela organização dos guetos e dos campos de concentração em território polonês.

Ele amava Hilter mais do que a própria família
Niklas Frank demonstra muito ressentimento pelo pai.

Horst von Wächter é filho de Baron Otto Gustav von Wächter – governador geral da Cracóvia (Polônia) e do distrito da Galícia na Ucrânia. Foi pessoalmente responsável pela formação do gueto da Cracóvia e por incentivar pogroms (ataques aos judeus) na Galícia.

hITLER IRIA MUDAR SUA POLÍTICA
Horst von Wächter exibe negação em relação aos feitos do pai. 

Ambos foram entrevistados pelo advogado, que atua como defensor dos Direitos Humanos nos Estados Unidos, chamado Philip Sanders, cuja família foi praticamente exterminada em campos de concentração. 

Niklas Frank revela que seus pais viviam um casamento infernal, cheio de brigas e traições. Hans Frank amava Hitler acima de tudo. Sabia Goethe e Shakespeare de cor, pois era uma pessoa extremamente culta.

Para o entrevistado, toda a sua humanidade foi ensinada pela babá, pois sua mãe não gostava de crianças e pouco teve contato com os filhos.

Ele conta que quando criança chegou a visitar o gueto de Varsóvia. No local viu crianças com a estrela de Davi nos braços e não entendeu. Mostrou a língua para um menino, que abaixou a cabeça e saiu de perto. Sua babá o repreendeu. Na infância, Niklas Frank não fazia nem ideia do que estava acontecendo.

Horst von Wächter recebe Philip Sanders em sua casa e trata o assunto de seu pai com muita normalidade. Sua postura difere completamente de Niklas Frank. Ele acredita que seu pai queria salvar os judeus e era contra o genocídio. Vive em total negação da realidade.

O entrevistado descreve o pai como alguém carinhoso e atencioso com a família. Vendo as fotos familiares não há nem sombra da figura do genocida nazista.

Louco acha que é judeu
Horst von Wächter tenta nos convencer de que seu pai não era antissemita.

A cidade ucraniana de Lviv está no âmago do documentário, pois liga os dois entrevistados a Philip Sanders. O mesmo local foi chamado pelos alemães de Lemberg e pelos poloneses de Lwow. A partir disso, temos uma ideia dos conflitos.

sinagoga queimada
Philip Sanders, Niklas Frank e Horst von Wächter vistitam uma sinagoga incendiada em Liviv.

A população judaica foi praticamente exterminada da cidade. Em 1942, o local era um importante centro judaico, hoje a comunidade desapareceu.

No entanto, hoje temos uma população ucraniana de extrema direita que idolatra o pai de Horst, pois ele havia prometido liberdade para a população da cidade.

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Um cidadão ucraniano é entrevistado, pois está com uma suástica.

Nada mais ingênuo, visto os discursos do Hitler a respeito dos eslavos de uma forma geral.

Ucrania nazista

O documentário mostra Horst sendo ovacionado pela população de Lviv.

Niklas Frank revive os momentos finais de seu pai, em que ele pede para se confessar com um padre e depois cumpre a pena de enforcamento.

Ele não era meu pai

Baron Otto Gustav von Wächter não foi julgado em Nuremberg, pois foi protegido pelos contatos que tinha com pessoas do Vaticano.

pai de Horst Otto von wachter

Podemos perceber que os dois entrevistados tiveram suas vidas marcadas pelo fato de serem filhos de nazistas. No entanto, Niklas Frank demonstra mais consciência a respeito dos feitos paternos, ao contrário de Horst que mesmo com todas as evidências da participação de seu pai, acredita em sua inocência. 

Pelo documentário podemos depreender que  tanto Hans Frank como Otto von Wächter eram membros  do Partino Nazista e, portanto, tinham total consciência  de seus atos. Ambos estavam muito distantes do burocrata medíocre que foi Adolf Eichmann. 

Para quem se interessar o documentário está disponível na Netflix.

 

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Resenha Filme: Lore – Cate Shortland

A narrativa se passa na Alemanha no final da Segunda Guerra Mundial em 1945. Uma jovem está tomando banho e desce as escadas para ver seu pai que chegou.

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A protagonista Lore.

A cena dá grande destaque a ação do banho, enfatizando a obsessão pela limpeza. Vemos na colcha da cama uma suástica e já descobrimos que não estamos lidando com uma família de alemães comuns, mas de nazistas.

As personagens parecem saídas das propagandas do regime: crianças loiras, altas e magras. Os documentos comprometedores da casa começam a ser queimados, o pai mata a cadela da família e foge na primeira oportunidade.

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Pelas movimentações percebemos que o pai pertencia ao Partido Nazista e tinha ligação com os campos de concentração. Devido a isso, a mãe junto as crianças fogem para o interior.

Eles chegam em uma casa extremamente sem conforto, mas nada é dito, ninguém reclama. A mãe vai para a cidade trocar talheres por comida e volta completamente atordoada.

Lore tenta ajuda-la, que lhe dá um grito, ‘falando para não a olhar daquela forma’ (sentindo pena). A câmera nos mostra as pernas da mãe toda ensanguentada. Ela fora estuprada pelos americanos. Percebendo seu destino, ela abandona seus 5 filhos: Lore, Liesel, os gêmeos e o bebê Peter.

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Lore e seus irmãos são abandonados pelos pais.

Posteriormente, a protagonista sai de casa em casa, trocando joias por comidas, e normalmente é mal recebida. Em outros tempos, devido a posição de seu pai estenderiam um tapete vermelho para ela.

Para fornecer alimentos, os americanos exigiam que a população civil ficasse 1 hora olhando para fotos de campos de concentração libertados por eles. Lore não tem opção e fica observando os horrores. Nesse momento, ela começa a entender um pouco a situação do país.

Ela começa a perceber o perigo muito próximo e junto com seus irmãos começa a ir em direção a Hamburgo, que estava sob domínio soviético, na casa da avó.

No caminho eles encontram um comboio de soldados americanos que os param e pedem seus documentos, e eles não tinham nenhum, fato que aumentaria muito a desconfiança.

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Lore e seus irmãos encontram um comboio de soldados americanos.

Nesse momento um rapaz judeu, que Lore já havia encontrado anteriormente em uma das casas na vizinhança, aparece e diz que eles são seus irmãos e são judeus. Para comprovar ele apresenta sua documentação que tem uma estrela de Davi em tecido recortada de uma roupa.

Os soldados americanos acreditam e os deixam seguir. O rapaz chamado Thomáz segue junto de Lore e seus irmãos.

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Lore seguem junto com seus irmãos e Thomáz os acompanham.

Lore demonstra ser antissemita convicta, pois mesmo o moço salvando-os, ela não demonstra simpatia por ele e às vezes o olha com raiva.

Thomáz tinha dito aos americanos que estava vindo do campo de concentração de Auschwitz. Ele tinha uma tatuagem com números perto do pulso. No entanto, em um determinado momento, ele começa a fazer exercícios físicos na floresta.

Uma pessoa que havia acabado de sair de um campo, mal tinha condições de parar em pé. Ele também aparece sem camisa e tem os músculos dos braços definidos. Isso seria completamente impossível. Os sobreviventes dos campos costumavam a ficar meses internados em um hospital.

Em outra cena muito marcante, eles precisam atravessar um rio. Lore em desespero começa a oferecer tudo o que tinha para um barqueiro atravessá-los.

O homem não aceita e ela se oferece sexualmente. Thomáz vê a situação degradante da jovem e mata o dono do barco com uma pedrada.

No lado soviético tudo se complica muito mais. Mas, eles precisam seguir até Hamburgo.

A mente de Lore começa a fragmentar. Tudo principia com a morte da cadela, a mãe machucada, o abandono dos pais, as fotos do Holocausto e os desdobramentos até o final do filme.

Eu vou deixar o restante com vocês!

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Resenha doc.: Hitler – Uma carreira (Joachin C. Fest e Christian Herendörfer)

“Exterminaremos todos os judeus e comunistas. A Rússia será nosso jardim do Éden.”

O documentário versa a respeito da carreira política de Hitler, como ele se construiu e implementou suas ideias. Particularmente, senti falta de uma abordagem sobre a infância dele. O filme contou com muitas imagens do “Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstahl e outras de seus discursos. Vou me ater sobre a figura do Hitler, que é o objetivo da obra.

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Imagem do Triunfo da Vontade.

Adolf Hitler conhecia o poder da imagem. Era um homem que gostava de se vender como um deus, descendo das nuvens ao povo. Ele se colocou como o salvador, o Messias do povo alemão. Hitler passava o dia analisando seus discursos e sua postura, a fim de que ficassem cada dia melhores.

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Hitler se vendia como um deus.

O político nazista quando chegou a Viena era uma figura rejeitada no mundo burguês, isso o tornou ressentido. Possivelmente, esse fato o deixou raivoso, projetando na figura principalmente do judeu todo o ódio que sentia.

Hitler serviu na Primeira Guerra Mundial e não foi promovido a sargento, pois seus superiores o viram sem capacidade de liderança. Seus companheiros o achavam uma pessoa estranha, pálida, distante e retraída.

Após uma tentativa de golpe frustrada, Hitler caiu em depressão profunda e seus amigos tiveram que convence-lo a não se suicidar.

Com a crise de 29, havia chegado a hora dos radicais. Os Nacionais Socialistas combateram a tristeza da depressão com imagens de otimismo e alegria. Eles ofereciam diversão ao público, ao invés de luta de classes,  mostravam imagens de integração e cooperação.

Em 1933, Hitler se torna chanceler e os primeiros campos de concentração foram criados. Fora dos arames farpados, tinham festas e danças típicas. Assim, o orgulho nacional havia sido restaurado.

Seus discursos continuavam oferecendo ideias extremamente simplistas à um povo sedento. Em um deles: “O garoto alemão deve ser alto, magro, rápido como um cão e forte como um touro. Eu cresci com persistência, andando e passando fome e cheguei até ao topo.”

O comandante nazista mobilizou a população contra um inimigo fictício – o judeu. Ele começou ordenando a queima de sinagogas e acabou na Solução Final. Em relação à URSS, Hitler acreditava que a luta contra os soviéticos se resumia em raça superior x raça inferior, também pretendia destruir os bolcheviques, que ligava aos judeus.

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Imagem da Noite dos Cristais, prenúncio do Holocausto.

O Führer pretendia exterminar todos os judeus e comunistas da Europa. Em uma de suas falas: “Faremos da Rússia nosso jardim do Éden.”

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Soldados alemães presos na Batalha de Stalingrado. A guerra contra a URSS foi um fiasco.

Depois de perder a batalha de Stalingrado, o líder nazista fez somente 3 discursos e pouco aparecia em público. Ele se tornou cada vez mais solitário, amargo e com a mente confusa por causa dos remédios. Ficava horas, fazendo monólogos entediantes sobre treinamentos caninos.

Com a chegada dos aliados na Alemanha, a guerra total imposta pelo nazismo, agora estava no portão de casa. Cidades alemãs inteiras estavam sendo destruídas, o povo estava desprotegido.

Os vencedores fizeram os alemães se confrontarem com o que aconteceu. Nesse momento é mostrado no documentário os cidadãos, vendo os campos de concentração.

Os emblemas foram removidos, todos os símbolos queimados. Os estandartes foram parar na marcha da vitória em Moscou.

Veja também: “A Mente de Adolf Hitler”: https://juorosco.blog/2019/03/31/resenha-livro-a-mente-de-adolf-hitler-walter-c-langer/

Eu assisti o documentário no Netflix e achei o mesmo no youtube:

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Resenha Filme: “Ele está de volta”: O que você faria se encontrasse com Hitler hoje? David Wnendt

 

Em muitas horas de gravação a maioria tirou selfies e reclamou dos estrangeiros e dos refugiados.

“Sim, precisamos trazer de volta os campos”. Disse um cidadão alemão ao falso Hitler.

 

Em 2014, Hitler acorda em um terreno baldio, perto de seu antigo bunker, envolto em fumaça, com a roupa suja e com uma grande dor de cabeça. Assim começa o filme.

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Hitler acordando em uma Berlim atual. Imagem de divulgação. 

Baseada no livro homônimo de Têmur Vernes, Hitler reaparece em Berlim e é descoberto por um produtor de TV, posteriormente transformado em uma celebridade.

A obra cinematográfica é parecida com Borat de Sacha de Baron. Mistura atores e pessoas comuns nas ruas, ficção e realidade. O ator que interpretou Hitler, Oliver Mastrucci, disse que ficou impressionado com rapidez com que ele conquistou as pessoas, “na verdade as pessoas estavam falando com Hitler”.

Setenta anos após o fim do Terceiro Reich o filme parece provar que a Alemanha atual poderia receber um Hitler como salvador, visto os grandes problemas: crise econômica que assola a Europa e uma população que leva uma vida robótica voltada para o consumo, totalmente idiotizada, assistindo porcarias na TV. Terreno fértil para ideias da extrema direita.

Em uma cena o Hitler fake disse: “Olha a taxa de natalidade? Quem quer ter filhos em um país desses? ” E a plateia ficou muito pensativa….

Como na década de 30, todos viram Hitler como um palhaço sem valor e no filme o povo o vê da mesma maneira. Acredito que não damos a devida importância quando ouvimos discursos absurdos de Trumps e Bolsonaros da vida, o vemos muitas das vezes como uns bobos da internet. Engano nosso.

É importante observar que na obra “Hitler” fica encantado com a abrangência de comunicação da internet. Se o nazismo fez um grande estrago na década de 30 e 40, utilizando o cinema e o rádio como principais meios de comunicação, imaginemos o estrago que faria com a internet?

A História nos alerta dos riscos de não prestarmos a atenção nessas mensagens, com esse filme ficou claro que as ideias nazifascistas continuam vivas.

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Pessoas tiram selfies com o “Hitler”. Imagem de divulgação. 

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Resenha Livro: A Cruz de Hitler. Erwin Lutzer.

“Nosso pai Adolf que estás em Nuremberg, santificado seja o Terceiro Reich”. (Oração do Pai Nosso, modificada pelo nazismo)

Hoje quis escrever sobre um livro interessantíssimo “A Cruz de Hitler”, do pastor Erwin Lutzer. Apesar de ser um livro religioso, a obra é muito proveitosa para quem se interessa por História.

O autor resolveu pesquisar a respeito do comportamento dos cristãos alemães no nazismo, ao visitar o antigo prédio do Ministério da Guerra nazista na Alemanha, hoje um museu. Nessa ida ele viu fotos de pastores protestantes e padres com o braço estendido fazendo a saudação nazista. Naquele momento, Erwin ficou intrigado: O que os cristãos pensavam, principalmente os protestantes, frente as atrocidades cometidas pelo Terceiro Reich?

A nação alemã era maioria cristã, 95% das pessoas eram protestantes e católicas. Como essas pessoas foram coniventes com o Holocausto? Poucos foram os crentes que discordaram dos nazistas e acabaram até em prisões, infelizmente a grande maioria simplesmente se omitiu.

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Igreja Luterana com a cruz e a suástica. Como uma nação majoritariamente cristã acreditou nas teorias nazistas?

As hipóteses são muitas e o autor divaga sobre muitas possibilidades. O que é interessante questionarmos é que mesmo as ideias nazistas sendo totalmente contrárias as cristãs, poucos questionaram.

O absurdo chegou ao ponto de a oração do Pai Nosso ser modificada para: “Nosso pai Adolf que estás em Nuremberg, santificado seja o Terceiro Reich”. Herman Otto Hoyer pintou um quadro de Hitler em Sterneckerbrau e intitulou-o: “No princípio era o Verbo”. Claramente, percebemos que no mundo nazista não caberia o cristianismo, mas somente uma adaptação dele. Hitler seria o novo Cristo, o messias da Alemanha.

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Hitler seria o novo Cristo, o Messias da Alemanha.

Abaixo um trecho de uma pregação de um pastor luterano, chamado Julius Leuthersen em 1933:

“Deus veio à nós por intermédio de Hitler…por intermédio de sua honestidade, de sua fé e de seu idealismo, o Redentor nos encontrou…Hoje nós sabemos que o Salvador veio…..”Pg. 128

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Igreja Luterana na Alemanha, com a suástica.

A cruz das igrejas foi substituída pela suástica e poucos cristãos viram isso como algo errado, ou no mínimo estranho, a maioria resolveu se alienar. Abaixo reproduzo o relato de um luterano a respeito do seu comportamento no nazismo:

“Eu vivi na Alemanha durante o Holocausto. Eu me considero cristão. Ouvíamos histórias sobre o que estava acontecendo com os judeus, mas tentávamos nos manter à parte. Afinal, o que alguém poderia fazer para parar aquilo?

Uma linha ferroviária passava atrás de nossa pequena igreja. Todos os sábados pela manhã podíamos ouvir ao longe o apito do trem e a seguir o barulho das rodas sobre os trilhos. Ficávamos transtornados quando ouvíamos os gritos que vinham dos trens quando estes passavam próximo à nossa igreja. Percebíamos que naqueles vagões, judeus estavam sendo carregados como se fossem gados!

Semana após semana ouvimos o apito do trem. Tínhamos pavor de ouvir o som das rodas, porque sabíamos que ouviríamos o som dos gritos dos judeus rumo aos campos de extermínio – gritos que nos atormentavam.

Sabíamos a hora em que o trem viria e quando ouvíamos o zumbido, começávamos a cantar hinos. No momento em que o trem passava atrás da igreja, já estávamos cantando com toda a força. Se ouvíssemos os gritos, cantávamos mais alto para não escutá-los.”  Pág. 124.

Esse relato exemplifica o pensamento da igreja na Alemanha, por certo, pensavam não nos afeta, não temos nada a ver com isso.

Fica a pergunta para todos nós (não só para os cristãos). Até que ponto somos omissos em relação ao sofrimento do outro? Será que estamos ouvindo os gritos da criança que apanha do outro lado da rua? Dos gays que apanham de lâmpadas na Paulista? Dos nossos irmãos animais que sofrem maus tratos de todas as espécies? Da mulher abusada, e tantas outras vítimas? Fica a dica de um livro que nos faz pensar muito a respeito do preço da omissão.

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