“Neste livro, lugares, fatos e pessoas são reais. Não inventei nada: e toda vez que, nas pegadas do meu velho costume de romancista inventava, logo me sentia impelida a destruir tudo o que inventava.” Natalia Ginzburg
Léxico familiar é um livro autobiográfico da escritora italiana, Natalia Ginzburg. A obra ganhou o prêmio literário de maior prestígio da Itália, o Strega, em 1963.
O assunto se concentra na vida cotidiana da família Levi. Com uma prosa “seca”, ela nos transporta à intimidade de sua família e aos poucos o público e o privado se cruzam. A impressão que nos passa é que Ginzburg escreveu a narrativa como se fosse uma conversa.
O fio condutor são as brincadeiras, brigas, passeios nas montanhas, estudos da língua russa e a elaboração de pequenos poemas. Nesse meio surgem várias pessoas, como o escritor italiano Cesare Pavese, que aparece como um amigo da família.
“Ele (o pai), ao contrário, ralhava com minha mãe, porque achava que ela comia demais.
– Não coma demais! Vai ter indigestão!
– Não arranque as cutículas! – trovejava de quando em quando. De fato, desde criança, minha mãe tinha a mania de arrancar as cutículas: isso depois de ter tido um unheiro, e em seguida o dedo que perdia a pele, certa vez, em seu colégio.”
Giuseppe Levi é o pai de Natalia, um judeu casado com Lídia, que é católica, embora nenhum deles sejam praticantes. A família vive na cidade de Turim.
A infância de Natália, foi bem confortável, permeada pelo bom humor da mãe, que contrastava com o péssimo humor do pai, que chamava todos de parvos e burros. Paola, irmã da escritora, era a mais bonita e próxima da mãe, enquanto os três irmãos mais velhos brigavam o tempo todo.
Havia intermináveis discussões sobre Proust, que Lídia adorava e Giuseppe odiava, como detestava tudo que era francês.
Até mesmo, as brigas familiares sobre quem era feio ou bonito, nos é contado, pela autora.
Seria uma família como qualquer outra, exceto pelo fato de serem socialistas, vivendo sob o domínio fascista de Mussolini.
O foco da escritora é sempre a vida familiar, mas vamos compreendendo que as coisas estão mudando, quando eles precisam se esconder e abrigam conhecidos fugitivos da polícia do governo fascista.
Giuseppe era professor universitário de Biologia e consegue fugir para a Bélgica, quando Mussolini proibi judeus de exercerem qualquer cargo público.
Lídia saía as ruas todos os dias na esperança de que, Mussolini tivesse renunciado ou até sido morto.
Natalia nos conta que na guerra, ela teve a primeira vez a consciência de que sua mãe não poderia protege-la.
Em 1943, seu marido Leone Ginzburg, é preso pela polícia alemã e três meses depois morre, sendo torturado.
No entanto, o foco da escritora é sempre o cotidiano familiar, conforme foi dito. Por exemplo, quando eles estão no exílio, a escritora nos conta que era difícil acender o fogão e as manhãs eram tomadas pela pregação de botões nas roupas.
Percebemos que apesar de serem judeus, eram pessoas que nada conservavam do judaísmo, eram típicos italianos de classe média.
Os judeus alemães, por exemplo, não entendiam porque o nazismo os perseguia, pois eles se compreendiam alemães, às vezes, eram mais nacionalistas do que os luteranos e/ou católicos do país.
O mesmo vemos com a família Levi; Giuseppe repreendia e se enervava com quem não pronunciava as palavras (em italiano) de forma adequada. Não gostava de Proust por ele ser francês, lembrando que o escritor era também judeu.
Natalia nos diz que seu pai achava os judeus, de uma maneira geral, feios, sendo os sefarditas mais feios, ele era asquenazi. Também, detestava a Psicanálise, uma ciência considerada no período judaica, devido ao Freud ser o fundador e maior percursor.
Não existia um pensamento coletivista entre os judeus de nacionalidades diferentes, como acusavam os nazistas. Conforme afirma Hannah Arendt, os judeus se compreendiam cidadãos do local onde estavam. A grande maioria dos judeus ocidentais eram seculares.
Mesmo a família de Natália sendo socialista, era ao mesmo tempo nacionalista e não via nenhuma contradição nisso. Também, os pais não abriam mão dos confortos “burgueses”, como por exemplo, ter uma empregada doméstica.
Apesar disso, o mundo doméstico dos Levi se contrapõe a um mundo repleto de repressão, tristezas e mortes. A história narrada é sobretudo de resistência de um pessoal que sobreviveu em um período sombrio.
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